Na génese deste projecto esteve a acepção de que nos últimos dez anos em Portugal
se começou finalmente a espelhar o tremendo impacto dos Estudos Pós-Coloniais, e
especificamente dos Estudos Literários Pós-Coloniais, que já tinha tido lugar além-fronteiras.
Contudo, tanto a nível de ensaios como inclusive de dissertações, a produção científica
tem estado tolhida pelo facto de em língua portuguesa não existir um instrumento
terminológico que permita uma evolução crítico-literária assente em validações realizadas
pela comunidade especializada. Até ao momento, portanto, não está disponível uma
ferramenta fundamental para desenvolver o trabalho nessa língua de especialidade,
o discurso pós-colonial.
No entanto, tendo em conta que esse discurso está a ser produzido na língua inglesa
em quantidade satisfatória para que os termos surjam em estudos da especialidade,
alguns estudiosos em Portugal que já se dedicavam a esta área específica da literatura,
como decerto em outros países, têm sido quase inevitavelmente direccionados para
a produção dos seus textos também em inglês. Esta atitude teve duas consequências
imediatas: por um lado, elaborar um texto de nível académico numa língua que não
é a nativa leva sempre a dificuldades linguísticas acrescidas, nomeadamente a criação
de erros semântico-sintácticos e ambiguidades conceituais; por outro lado, barrava
estudos comparativos com a literatura pós-colonial de expressão portuguesa já que
os termos relativos a esta realidade literária encontravam-se muito pouco desenvolvidos
e sem equivalência na língua inglesa. Os estudos sobre a literatura pós-colonial
de expressão portuguesa tinham, portanto, dificuldade em ter acesso ao próprio discurso
crítico que lhe estava subjacente, daí resultando a pouca expressão desses estudos
a nível internacional. Nos últimos anos houve indubitavelmente um crescimento valioso
dessa produção mas a terminologia continua a existir sem validação.
Os objectivos de colmatar as lacunas terminológicas detectadas resultaram na formulação
de um dicionário que ambiciona dotar a língua portuguesa dos termos que já foram
validados por trabalhos dicionarísticos em língua inglesa e encontrar equivalentes
em língua inglesa de termos que surgiram de conceitos próprios da experiência colonial
e pós-colonial portuguesa, que se distingue da britânica a vários níveis.
Tendo estes propósitos em mente, foi pedida a colaboração de cerca de trinta especialistas
das várias áreas a interagirem na construção de um discurso pós-colonial que assistissem
este projecto com os seus comentários no que diz respeito à delimitação do corpus,
selecção de termos, suas definições, e demais informações que achassem relevantes.
No seu formato final
o Dicionário Terminológico de Crítica Literária Pós-Colonial providenciará
acesso livre aos seus termos a académicos e seus alunos, previsivelmente os destinatários
maioritários do projecto, mas também a todos aqueles que se interessem pelo universo
literário pós-colonial.
O projecto Dicionário Terminológico de Crítica Literária Pós-Colonial que agora arranca,
não poderia ter começado sequer a ser imaginado sem o apoio financeiro da Fundação
da Ciência e Tecnologia para subsidiar o trabalho de Maria Sofia Pimentel Biscaia,
do Centro de Línguas e Culturas da Universidade da Aveiro na pessoa da Dra Maria
Teresa Roberto e ainda do Dr Lars Jensen do Grupo de Estudos Culturais do Departamento
de Cultura e Identidade da Universidade de Roskilde, Dinamarca. A eles e a todos
os colaboradores que amavelmente partilharão a sua valiosa sabedoria para conseguir
realizar este projecto com sucesso, a minha maior gratidão.
Legenda
- Butcher Boys, Jane Alexander (1985-1986)
- Europe supported by Africa and America, William Blake (1777)
- Trono de armas, Cristovão Canhavato (2001)
- A primeira missa no Brasil, Paula Rego (1993)
- A Mulher Tarairiu, Albert Eckhout (1641)
|
|